As férias (I)
A pressão da cidade levou-a a uma aldeia perdida no Alentejo.
Um mês inteiro ali. Sobre um calor que desfocava a paisagem. O sitio mais fresco era o quintal da casa alugada. Debaixo da mangueira. Encostava as mãos à parede branca e ficava durante minutos perdidos a sentir a água fresca sobre o corpo quente.
Na aldeia havia uma única taberna. Daquelas apenas frequentadas por homens já reformados. Onde o balcão mal chega à cintura de cada um. Onde se jogam cartas para matar o tempo. As mulheres não entram. As paredes são caiadas de branco. A mobília compõe-se de pipas cravadas na parede, do balcão de madeira, e de mesas e bancos pintados de azul forte.
Ela entrou.
O olhar de desaprovação, espanto, encanto, inundou os rostos dos homens.
Disse bom dia. Pediu um café. Sentou-se. Tomou o café e fumou. Cada gesto seu era observado pelo silêncio quase gelado que em um minuto tomou posse da taberna.
No meio dos homens velhos apercebeu-se da diferença. Um homem mais novo conversava com os homens velhos. Era alto. Usava roupa de campo. Boné a cobrir-lhe os cabelos por cortar.
Não conseguiu evitar que os seus olhos se desviassem para os dele. O trabalho de campo e sol disfarçavam a sua idade. Não conseguia sequer imaginar a sua idade.
O tempo e o espaço deixavam de existir. Apenas aquela figura existia aos seus olhos.
Saíu. Sabia que comentariam a sua ida à taberna. Voltou à noite.
Ele estava lá.
Ritual idêntico: café, cigarros, e os olhares. Os olhares que nenhum deles já controlava.
Pensou durante um momento sobre o que ele faria ali, numa aldeia perdida, onde toda a gente já ultrapassara a juventude há muitos anos.
Ela saiu. A sua casa não era muito longe. Duas ruas abaixo da rua da taberna.
Estava calor. Mal chegou a casa despiu a t-shirt, os jeans, os ténis. Ficou de soutien e cuequinhas. Brancas, simples. Afinal resolvera tirar férias de tudo, inclusive das roupas que normalmente usava.
Alguém bateu à porta. Assustou-se. Não conhecia por ali ninguém. Era ele.
(continua...)
Teresa
Um mês inteiro ali. Sobre um calor que desfocava a paisagem. O sitio mais fresco era o quintal da casa alugada. Debaixo da mangueira. Encostava as mãos à parede branca e ficava durante minutos perdidos a sentir a água fresca sobre o corpo quente.
Na aldeia havia uma única taberna. Daquelas apenas frequentadas por homens já reformados. Onde o balcão mal chega à cintura de cada um. Onde se jogam cartas para matar o tempo. As mulheres não entram. As paredes são caiadas de branco. A mobília compõe-se de pipas cravadas na parede, do balcão de madeira, e de mesas e bancos pintados de azul forte.
Ela entrou.
O olhar de desaprovação, espanto, encanto, inundou os rostos dos homens.
Disse bom dia. Pediu um café. Sentou-se. Tomou o café e fumou. Cada gesto seu era observado pelo silêncio quase gelado que em um minuto tomou posse da taberna.
No meio dos homens velhos apercebeu-se da diferença. Um homem mais novo conversava com os homens velhos. Era alto. Usava roupa de campo. Boné a cobrir-lhe os cabelos por cortar.
Não conseguiu evitar que os seus olhos se desviassem para os dele. O trabalho de campo e sol disfarçavam a sua idade. Não conseguia sequer imaginar a sua idade.
O tempo e o espaço deixavam de existir. Apenas aquela figura existia aos seus olhos.
Saíu. Sabia que comentariam a sua ida à taberna. Voltou à noite.
Ele estava lá.
Ritual idêntico: café, cigarros, e os olhares. Os olhares que nenhum deles já controlava.
Pensou durante um momento sobre o que ele faria ali, numa aldeia perdida, onde toda a gente já ultrapassara a juventude há muitos anos.
Ela saiu. A sua casa não era muito longe. Duas ruas abaixo da rua da taberna.
Estava calor. Mal chegou a casa despiu a t-shirt, os jeans, os ténis. Ficou de soutien e cuequinhas. Brancas, simples. Afinal resolvera tirar férias de tudo, inclusive das roupas que normalmente usava.
Alguém bateu à porta. Assustou-se. Não conhecia por ali ninguém. Era ele.
(continua...)
Teresa